Um passeio descontraidocom amigos, num local distante da poluição urbana. Muita vegetação cerrada próxima a represa de Guarapiranga ...local propício à pesca , passeios de barco , casa de campo ,etc.
Era uma aventura e tanto embrenhar-se num lugar que mais parecia uma selva.Na humilde habitação de seu Paulo,esposa, e duas crianças entre cinco e seis anos...gente simples, felizes no seu pequeno mundo .Não me recordo dos nomes ,pareciam indígenas pelo seu linguajar característico e os semblantes curtidos de sol e comportamento silvícola.
Era uma família conhecida de alguns anos, que viviam como caseiros fixos nesse recanto da natureza pura e simples. Durante o dia o sol brilhava e convidava a espreitar as águas e sentir o seu frescor,sentando a margem ,próximo ao barco alí exposto,balançando nas águas como a dançar em rítmo lento das pequenas ondas que chegavam serenas.
Eu tinha um espírito aventureiro e não temia a imensa represa que contemplava a minha revelia.-Como era linda a paisagem das águas,circundada pelas vegetações e os cânticos dos pássaros ! Que mais poderia almejar naquele paraiso ?
Ao entardecer ajudava a esposa do seu Paulo a preparar o jantar,refeição simples com aquilo que era cultivado no espaço ao redor.Muitas verduras e também mandiocas ,batata doce, e frutas típicas dos arredores; entre elas bananas ouro,aquelas pequeninas e saborosas.
Após o jantar,ouvíamos as narrativas do dia a dia,com o cafézinho para complementar.Alí tudo era rústico,os banquinhos,o fogão a lenha,as vestimentas da família...as canequinhas que servia café...tudo muito aconchegante.
Como as acomodações eram precárias...adivinha onde fomos nos alojar para dormir ?
-Num celeiro !
Foi maravilhoso acomodarmos sobre as palhas e olhar as estrelas e o luar no firmamento. Ainda bem que estávamos no verão !
Quando se é jovem,tudo é motivo de alegrias com as novidades que enfrenta improvisado ,distantes da comodidade das grandes metrópoles. Nem os insetos que perambulavam pela escuridão nos afetava.Era também a vida em movimento mesmo a noite,quando todos descansavam; o universo se movimentava constantemente.
Durante a estadia de uns dez dias ,partiríamos ...
Então ...o penúltimo dia seria de aproveitar as águas da represa...passeando de barco , e desfrutando a bóia com que as crianças brincavam.
E lá fomos nós rumo as águas turvas ,apesar das nuvens cinzentas que pairavam no ar...dando um ar misterioso...meio sinistro...Eu não sabia nadar e muito menos boiar.Porém...não temia aquele desafio de ficar na bóia ,sem perceber que os ventos estavam distanciando-me da margem,e levando a bóia para o meio da represa.As águas estavam um pouco revoltas...nem havia notado !
Foi questão de segundos e a bóia virou ...e lá fui eu para o fundo...ou quase...se não fosse salva pelos cabelos que eram longos...minha sorte !
Dentre o nosso pessoal havia quem praticasse pesca submarina ,e estava junto a mim naquele momento de aflição.
Relembro cada detalhe de quando descia as profundezas : sómente descia em sentido reto sem debater-me.Rezava enquanto sentia a água fria no meu corpo...afundava rapidamente.
Quando fui tirada fora d´gua ,com as mãos apoiadas no barco,ao abrir os olhos via rodar tudo...devido a água nos ouvidos...então tornava a fechá-los novamente. Estava tão assustada que mal respirava ou me mexia ,até que estivesse em terra firme.A família do seu Paulo aguardava com um copo de água açucarada a minha chegada.
-Que sufoco ! Graças a Deus não me afoguei , nasci de novo !
Após esse triste acontecimento fiquei traumatizada. Durante anos tive muitos pesadelos com águas...apesar de adorar ir a praia e mal ficar na beirada do mar,devido ao trauma desse episódio.Não tenho mais sonhos com águas abundantes a me cercarem,parece-me que pouco a pouco estou superando.Mas ainda tenho receio...ficou o trauma ,embora sinta um grande fascínio pelo mar...e temor também.
Águas passadas que preciso esquecer e deixar na lembrança como experiência ao respeito à mãe natureza e seus desígnios...pois existe a cobrança cedo ou tarde,como nos mostra na atualidade.
Olga Pequena Mensageira
domingo, 3 de fevereiro de 2008
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