São trechos das postagens de.... Quem se arrisca ?
Nasci numa pequena cidade do interior e durante minha infância corria feliz pelas cercanias do sítio dos meus pais,no campinho que era o paraiso,repleto de flores silvestres e relva verdinha para deitar e sonhar.
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Aquilo era o meu pequeno mundo.E eu não sabia o quanto amava tudo aquilo.Nunca poderia imaginar que estava vivendo naquele pedaço de chão a mais maravilhosa fase da minha vida.Meu pai,trabalhava a terra e assim trazia o sustento para minha família.
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Minha mãe,pessoa humilde no corpo e na alma,cuidava de mim e de meus oito irmãos,com zelo e carinho.Apesar das dificuldades que passávamos,tínhamos uma educação exemplar,um respeito inerente e uma certeza de que a vida nos reservava grandes feitos.
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Com estes exemplos,alegrias,tristezas,tudo era compartilhado como o pão de cada dia.Cada qual fazia sua parte para edificar ainda mais o conceito familiar.O aprendizado contínuo,fazia-nos sonhar com um futuro promissor.
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*Mas...eu trazia dentro de mim um sentimento estranho,um misto de desafio e liberdade !Embora aquele pequeno cantinho do mundo contivesse tudo que algué poderia querer para viver em paz,meu espírito era rebelde e aventureiro !Sonhava com as luzes da cidade,com a correria colorida dos grandes centros !Queria estudar,crescer,trabalhar e ser gente grande!====================================================================
*Então eu olhava ao meu redor e percebia que toda minha esperança poderia ser vã.Alí era o fim do mundo.A escola mais próxima estava a doze quilômetros da porteira onde eu subia para ver todo o meu mundo.Muitas crianças faziam o caminho a pé,mas moravam mais próximas do vilarejo.Eu teria que ficar o dia inteiro fora,e quem ajudaria meu pai na roça?
Se meus irmãos mais velhos não puderam estudar,como eu poderia vencer esta falta de ambição deles com tanto serviço para ser feito no sítio ?===================================================================
Porém não desanimei.Tinha sonhos e iria concretizà-los mesmo com sacrifícios.Com o passar dos anos,meus irmãos conseguiram estudar o básico.E assim aprimorávamos na leitura,porque,mesmo sendo humildes,nós sempre tivemos livros adquiridos com muito esforço.Foram a nossa regalia,pois constituia todo nosso aprendizado e viajávamos nas leituras.
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A partir daí nossa vida tomou outro rumo.Meus irmãos mais velhos conseguiram trabalho nas indústrias em outr cidade e com economias,meus pais construiram nova casa no centro da cidade,sem desfazer do nosso cantinho no sítio,que nos trouxe muitas alegrias,apesar dos árduos trabalhos.
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*Muitas coisas marcaram esta época...Suaves lembranças e pequenas cicatrizes enchem de nostalgia os momentos que passo a sós.Nunca poderei esquecer as noites de inverno e lua cheia quando sentávamos ao redor do fogão de lenha.Enquanto a fumaça subia lentamente pela pequena chaminé espalhando o cheiro morno de milho cozido que borbulhava no caldeirão,meu pai enrolando um cigarro de palha começava contar lentamente e com voz rouca aquelas estórias de assombração que até hoje povoam meus pensamentos!====================================================================
Como toda criança,sentia medo das estórias fantásticas,mas me fascinava ouvir meu pai contando.Lembro-me das suas feições curtidas pelo sol da labuta diária.Seu olhar seguro que impunha respeito e proteção.Aquelas mãos calejadas que nos alimentava sem queixar-de do cansaço.Todos nós ao redor do aconchegante fogareiro,tínhamos calor não sómente das chamas azuladas,ms o amor fraterno que também nos aquecia.Noites frias com a canequinha de chocolate quente nas mãos...
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Quantas venturas ainda guardo na memória,fatos alegres e engraçados;e tristeza quando lembro que sem querer matei oito porquinhos rejeitados pela mãe.Por consequência do frio,acomodei-os dentro de um caixote de madeira e cobri com pedaços de pano velho.Porém,esqueci de deixar frestas para respirar;morreram asfixiados...Chorei muito e pedi perdão aos bichinhos.Tinha sete anos e queria protegê-los.Até hoje recordo-me do fato,embora já tenha passado tantos anos.
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É engraçado a reação quando falamos do passado.Acham que somos nostálgicos por relembrar fatos a nossa vida,principalmente da infância.Lembranças vívidas como se fosse o marco das aventuras que foram realizadas e nunca cncluidas porque a vida continua e as experiências traduzem nosso alicerce principal baseados na família desde a mais tenra idade.Viver do passado não,e sim,fortalecer as raízes que hoje é a regalia da vida .
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Com o olhar perdido no horizonte,meus pensamentos retrocedia nos anos em que não dispunha de tanto conforto que agora desfruto.Nesta férias,passei belos dias no litoral paulista,revigorando-me no corpo ,alma.Sem preocupações da rotina diária,pude vislumbrar a imensidão do mar,as estrelas no firmamento,e a vegetação da natureza.Sonhos...adquiridos,realizados.
Quando no frescor da ingenuidade poderia usufruir deste universo maravilhoso ?
Não poderia imaginar como sonhos transformam-se em realidade quando batalhamos por eles com muitos sacrifícios.Lembrei-me das valetas que meu pai construia,armazenando água para regar as plantações,ao atravessar uma pequena ponte de madeira que acessava a praia...
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Em pequeninas coisas faz-me retroceder à minha infancia:as valetas de irrigação,as lindas e frágeis libélulas esvoaçantes que beijavam as águas cristalinas e descansavam nos raminhos que ladeavam aquele recanto onde sómente se ouvia as águas em movimento.Quando o tempo estava quente,sentava na ponte de madeira e deliciava-me refrescando os pés naquela água límpida.
Como era bom ser criança !!
-Tudo se tansformava em brincadeiras inocentes e contentamento.
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Nem tudo eram flôres,havia também os espínhos.A primeira experiência dolorosa de perda,foi do cãozinho que era meu companheiro de jornada.
Brincávamos e corríamos pelos campos,ora rolando e cansados de tantas brincadeiras,ficávamos deitados na grama,aconchegados com a brisa suave que nos embalava.
Porém,tudo desmoronou quando numa manhã despertei e não avistei o meu amiguinho.
Percorri todo o quintal e deparei uma triste cena :ele estava morto entre os arbustos.
- Ele era tão novinho para morrer !!
Chorei muito e não esqueci o quanto sofri naquele dia. Foi também o aprendizado da fé em Deus.
Aprendi que a vida tem seu final e que o sofrimento faz parte do nosso viver,segundo minha mãe que foi a evangelizadora da nossa família na crença do catolicismo.
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*Acho que eu tinha dez anos.Era época das férias.
Eu não era um menino medroso e andava pelo terreiro cantando e repetindo:
-"Pererê,Pererê,onde está você.Eu vim aqui te ver."
O meu primo dizia que muita gente dalí,já tinha visto o saci.Era um negrinho sem vergonha,de uma perna só,muito arteiro,com um gorro vermelho pra cobrir o cabelo pichaim,e com um cachimbo de barro no canto da boca.
Eu não dava muita atenção,mas sabia que ele falava para me por medo.Eu não acreditava,mas também não duvidava.Até queria ver um.Então eu ia sózinho e ia lá arás da casa da vó,e ficava espiando o pasto e cantando :
-"Pererê,Pererê,onde está você.Vim aqui para te ver".
Um dia deu uma ventania forte de levantar poeira no terreiro da cozinha,e deformar aqueles redemoinhos.A vó falou que quando formar redemoinho...chi !
Sai correndo,corre mesmo porque é o sací que está com raiva,e fica girando dentro dele.Falava que se a gente jogasse uma peneira e um rosário de contas bem aberto em cima dele,o saci ficava preso no redemoinho até o rosário quebrar.
Você não acredita? Dito e feito !
Ela jogou o rosário de contas e na mesma hora a ventania parou.Eu sei que na catequese me ensinaram que tudo isso é invenção dos antigos e que nada disso deve nos impressionar,porque nada disso existe...Deus está sempre conosco,mas eu fiquei mesmo impressionado.
Fiquei pensando,pensand e sai resmungando sózinho:
-Será que ela prendeu o saci.Será que esse negrinho existe mesmo ?
Eu senti um arrepiozinho,mas eu não vi nada naquela ventania.Só vi poeira.Eu só acredito se encontrar um.
-Pererê,Pererê,onde está você? Vem aqui para eu te ver !
Também não vou me preocupar,porque se existe já está preso.A vó prendeu um,os outros estão soltos por aí,e podem ser traiçoeiros.
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Acredite se quiser nas estórias e folclore da nossa infância.
A chácara onde vivia,havia uma estradinha de terra batida,ladeada por carreiras de jutas;paralela à cocheira no fundo do quintal.Havia também pés de mamão,pêras e limão rosa.As noites eram iluminadas apenas pelo luar e estrelas numa luz tênue.
Tínhamos um cavalo que durante o dia pastava nos arredores.A tardezinha depois de alimentado,retornava à cocheira.Habitualmente pela manhã,era tratado,escovado,e após todos esses cuidados,era conduzido à pastagem.
Porém,numa manhã,o cavalo estava muito aflito.
Qual não foi a surpresa assustadora,quando vimos o rabo do animal todo trançado !!
Diz a lenda que o sací é quem faz esta maldade com os cavalos.Sinto arrepios quando relembro o fato que ainda criança presenciei.Agora pergunto:
-Será realmente folclore ??====================================================================
*Eu sempre andava por esta estradinha,e ia beirando a cerca de arame farpado,procurando pera madura.Aquele dia eu não queria nem pêra,nem mamão,eu estava tentando localizar um pequeno ninho de passarinhos com três filhotes,que eu tinha descoberto um dia antes.
Eu queria mostrar estes filhotes pelados e esfomeados para meus priminhos que eram muito pequenos,cinco a três anos naquela época.Eles nunca tinham visto coisa igual.
Percorri todo o caminho e não encontrei o ninho.Cheguei ao fim da cerca que terminava nas ruínas da casinha de sapé,já há muito tempo abandonada.Era alí que eu tinha nascido.Alí era o meu berço.Tive muita vontade de afastar as teias de aranha,espantar as galinhas e espiar lá dentro.Fiquei parado alí na porta.Estava muito escuro e eu resisti.
De repente,eu me arrepiei todo !
Ouvi um estalido,e um cacarejo de taquara rachada...Foi um arfar descontrolado de asas batendo,roçando minha cabeça,que irrompe daquela escuridão.
Confesso que me assustei.Então eu dei meia volta,tentando abandonar o lugar,mas não cheguei a dar nem vinte passos quando alguém me chamou:
-Psiu ! Psiu !
Olhei em toda a minha volta e não ví ninguém.Andei mais um pouco e ouvi novamente:
-Psiu ! Psiu !
Era alguém que queria me assustar.E eu sorria fingindo já ter descoberto quem fosse.
Virei a cabeça tão rápido como uma coruja,e semicerrei os olhos para diminuir o excesso de claridade.
- Agora eu o encontro!
O assobio parecia vir lá de baixo da beira do córrego que serpenteava entre o mato e o capim.Com certeza era alguém fazendo graça,mas eu não conseguia ver ninguém.
Eu não conseguia parar de tremer.Foi aí que me lembrei da ventania,da peneira,do rosário e do Pererê.
A verdade é que naquele momento eu não queria me lembrar,não queria pensar,não queria cantar,mas também não conseguia me dominar,e em meu pensamento eu repetia:
-Pererê,Pererê,onde está você ?Vem aqui para eu te ver !
Eu não queria falar isso,não queria pensar nesse verso,mas uma força me fazia repetir:
-Pererê,Pererê,onde está você ?Vem aqui para eu te ver !
Agora eu continuava andando com a cabeça abaixada,passos longos,mais rápidos,quando novamente eu ouvi bem perto de mim:
-Psiu !Psiu !
Olhei para o pasto morro acima,e fiquei grudado no chão,enquanto um arrepio gelado descia como lâmina cortante pela minhas costas.Eu não podia acreditar,mas ele estava lá.
Não tinha gorrinho vermelho,também não ví cachimbo.
Mas não era ninguém de casa.Estava alí parado,a poucos passos,bem na minha frente.
Ele sorria...Ele assobiava e saiu pulando numa perna só.
Você também está arrepiado,e eu tenho certeza...
Eu ví o sací !====================================================================
Após tantos medos e assombros,difícil era dormir na escuridão do quarto,onde pequena claridade do luar penetrava pelas frestas.Parecia que a noite era longa demais,e sómente se ouvia o coxar das rãs no riacho,e os grilos sussurrando nas árvores.
Escondia a cabeça nas cobertas,imaginando mil coisas acontecendo na escuridão.E assim adormecia,sem antes pedir proteção ao anjo da guarda.
Por falar em anjo,lembro-me de um quadro que minha mãe colocou no quarto e era muito lindo.Nele,o anjo da guarda acompanhava duas crianças numa ponte,protegendo-as da turbulência do rio.
Fixando esse quadro na mente é que conseguia me acalmar e relaxar.
Tinha muita fé nesse amigo invisível que sempre me protegeu.Com o despertar do novo dia todos os medos eram esquecidos.
A sinfonia dos pássaros,o canto do galo,a natureza deslumbrante banhados pelo orvalho,a brisa do campo entremeados com o aroma sutil das flôres silvestres que revestiam o verde rasteiro.
E após um humilde café da manhã,lá ia eu;meus primos,cantarolando felizes rumo a escola.A caminhada era longa e cansativa,cortávamos caminho numa estrada coberta de gramas.Tudo era felicidade porque descobríamos o mundo em cada trecho que percorríamos.
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*...Um dia brincando em meio ao "colonhão," que era o pasto do gado,ví algo que até hoje não sei direito explicar...mas que vi,isso ví.Estava com 10,12 anos e junto com meus amigos brincávamos de bang bang.Cada um arrumou um pedaço de páu,armamos em cima um pedaço de cano daquelas antenas tipo "jacaré" e colocávamos pequenas bolinhas de "sinamão" como projéteis...era então amarrados um elástico,tipo aquele de soro...puxávamos e zapt...doia pra burro...eram nossas armas...e assim formávamos grupos...um contra o outro...criávamos cabanas quebrando galhos,fincando forquilhas...cobrindo tudo com folhas e galhos...e até que ficavam bem bonitinhas e firmes...então o objetivo era aproximarmo-nos e tomar a cabana do outro grupo...e um dia começamos a brincadeira...o pasto era grande...os bois estava no outro curral(cercado)...e arrastávamos pelo chão...na tentativa de nos aproximar da cabana do inimigo...em dado momento eu olhei para trás e estava sózinho...tudo bem...já estava acostumado...não sentia medo...nem sabia direito o que era medo...medo de cobra,aranha,escorpião...que nada...tinha medo sim da mula sem cabeça,do sací pererê,da mulher de branco...e assim m arrastando por entre o colonhão ia eu,então em dado momento um barulho na mata me chamou a atenção,eu me ergui com cuidado e bem devagar com medo que fossem os outros meninos...
- Meu Deus !!!
A coisa era negra,enorme...peluda...e bufava...nem olhei direito...só sei que saí na correria,gritando,gritando...
As folhas do colonhão me cortando,me lanhando todo e eu nem aí...só queria correr e correr...aquilo era assustador...e quando me ví em espaço limpo,em uma pequena rua...meus gritos atrairam as pessoas mais próximas...homens,mulheres que passavam ao longo parava e olhava...
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