terça-feira, 9 de setembro de 2008

Páginas da vida ----- parte 2


continuação...


*homens ,mulheres que passavam ao longo parava e ficavam olhando espantados e assustados...meus amigos logo chegaram correndo também,eu estava todo ensanguentado...o sangue vinha dos cortes do colonhão.

Cortes no rosto,nos braços,nas pernas...minha roupa estava toda manchada de sangue...e...explicar o que tinha acontecido ? o que eu tinha visto ? aonde ?

Eu não tinha respostas para essas perguntas...e em casa uma boa surra me aguardava,pois dei muita preocupação para meus pais...e assim,depois disso,em muitas brincadeiras eles me chamam de "menino estranho"...

O tempo passou,muitas coisas a gente esquece com o tempo,mas algumas não conseguimos nos desvencilhar tão facilmente...

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Explicar fatos estranhos,que acontecem...quem nos dará crédito ?

As vezes vejo coisas e fico só com meus pensamentos,ninguém vai me dar respostas mesmo !!

Ou nem sabem o porque disso ou daquilo...

Tinha parentes que moravam distantes da cidadezinha onde residia;bem no meio de uma mata cerrada de plantações de eucalíptos.A chácara era imensa e havia de tudo,típica de agricultores...todo pedaço de terra se plantava ,nada se perdia.Foi numa festa de casamento nessa chácara que ví algo estranho.

Naquela época as festas eram dispendiosas,muita gente.A barraca enorme de lona era armada no quintal e a noite era iluminada com lampiões de gasolina.

Com o passar das horas os parentes se retiravam e muitos poucos ainda permaneciam.As crianças continuavam brincando perto da claridade dos lampiões na noite escura.

Quando distraida olhando a lua,contemplei uma bola de fogo acima da barraca se abrindo tomando formas gigantescas.

Repentinamente no interior da mesma,apareceu o cálice,a patena,brilhando como se fosse ouro...e a hóstia com os dizeres JHS.

O brilho era intenso e ofuscava a visão.Ignoro o espaço de tempo que ali ficou,talvez minutos...não sei.

Quando tudo se desfez numa nuvem de fumaça, nem contei a ninguém,porém o meu tio viu e descreveu o acontecido.Até hoje fico sem respostas,quem iria realmente crer numa criança de apenas oito anos naquela época ?

Detalhe...uma semana após esse fato,minha priminha que lá residia adoeceu sem causas aparentes e faleceu.

Fico arrepiada só de relatar...

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Com os fatos acontecidos muita coisa se modifica em nossa vida.Não foi diferente na infância...com os missionários franciscanos que passavam pela paróquia da minha cidadezinha,evangelizando algumas ovelhas desgarradas.

Eram idênticos aos discípulos de Cristo,com suas vestes surradas e sandálias batidas pelo pó das das estradas.Nas faces o suor das contínuas caminhadas que faziam ao longo dos dias e noites pregando nas ruas acompanhados de muitos curiosos e fiéis.

Naqueles humildes missionários foi determinada minha fé que permanece através dos anos.Aqueles rostos queimados pelo sol e barba por fazer,na eloquencia viva do evangelho,são cenas que relembro com carinho e guardo dentro do coração...e creio que foi na passagem da quaresma.

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Quem não aprontou quando está distante dos olhares vigilantes dos pais ?

Nunca fui a excessão e também tinha sómente alguns aninhos.Não escondia minhas traquinagens,era ingênua demais para definir maldades naquilo que fazia.Foi nessas andanças que sucedeu algo horrível.

Como era caminho do sítio,atravessava a plantação de melancias cultivadas por meu tio.-Imagina se a vontade não foi mais forte que a cautela de ser pega em flagrante ?

Aquelas suculentas frutas expostas ao sol,era uma enorme tentação !

Engraçado que eram pequenas,mas muito saborosas.É evidente que sentada debaixo de uma árvore,esbaldava-me deliciando com a fruta que havia colhido e partido com um pedaço de galho caido no chão.

Devido a hora do almoço,todos estavam descansando,e não havia ninguém para fazer-me correr.Estava satisfeita e preparava-me para continuar o trajeto,quando repentinamente surgiu um enorme enxame de abelhas.

Fiquei apavorada e paralisei...foi a minha sorte !

Só sentia o zumbido ressonando no rosto...passavam como poeira levantadas pela ventania...nem respirava de tanto medo !

Questão de segundos,da mesma forma que surgiram elas foram embora,e saí ilesa sem nenhuma picada...seria castigo por eu ter pego a melancia sem pedir ao dono ?

Também não ia ficar alí para perguntar.Até hoje ninguém soube desse fato...que chamo de "invasão de abelhas selvagens".

Parecia a praga de Egito !!!====================================================================


Havia algo de misterioso no ar quando se aproximava a sexta-feira santa,Paixão de Cristo.

Eu não entendia direito o porquê de todo aquele ritual nas igrejas,e nos ares também.Parecia que o tempo parava e uma sensção de tristeza predominava. Minha mãe,católica praticante...não deixava-nos fazer nenhum trabalho nesse dia.

E quanto ao jejum,sómente uma refeição completa e moderada,nada de abusos.Foi dessa maneira que aprendi a respeitar a Semana Santa.

Era como se fosse uma maneira de vivenciar toda aquela passagem do sofrimento de Jesus Cristo entre nós.

Havia um fato interessante...minha mãe plantava alho sómente na sexta-feira santa...ignoro o porquê.São coisas que criança guarda e não pergunta aos adultos,fantasiando tudo como mistério. Passados tantos anos,aquela sensação persiste quando chega a semana santa...e aqui fica registrado a passagem dos anos com a fé mais fecunda.

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Tinha entre cinco ou seis anos...não me recordo com exatidão.

Sempre brincava com meus primos no campinho perto da chácara,correndo por entre a relva rasteira na subida da encosta que era a nossa diversão.

Engraçado que nunca havia reparado que a minha casa ficava num lugar baixo e que era ladeada por morros.

Existia uma pequena saliência,como uma cratera ao término do mesmo.Gostava de esconder-me dos meus primos nesse lugar árido de solo avermelhado e vazio.

Sómente terra seca e pedregosa compunha o cenário. Para os meninos era aventura,como se fosse o deserto de um cemitério de animais.Algumas pessoas jogavam os animais mortos naquele lugar ermo.

Um belo dia descobri uma faca fincada até o cabo e puxei-a...não estava enferrujada, levei-a para casa.Até então tudo normal,sómente a noite começaram a aparecer pequenas protuberancias rosadas que coçavam e alastravam-se pelo corpo todo.

Minha mãe passava remédios para aliviar e nada amenizava.No dia seguinte bem cedo fui levado ao médico da cidadezinha que examinou-me e nada descobriu,receitou um unguento para aliviar as coceiras.

Durante uma semana sofria tudo aquilo porque estava formando feridas.Alguns amigos recomendaram a minha mãe que eu fosse levado a um benzedor conhecido nas vizinhanças.

Quando lá estive,ele fez uma oração e benzeu-me com o sinal da cruz. Senti um alívio momentâneo.

Nesse instante ele perguntou se eu havia pego alguma coisa no mato enquanto brincava.

Lembrei-me da faca fincada no solo e contei sobre a mesma.Pediu-me que fosse levá-la novamente ao local...no mesmo lugar.

Retornando a casa,eu e meu pai pegamos a faca e enterramos até o cabo exatamente como a encontrara.

Devolvida à terra,senti que tinha enterrado também a coceira.Ignoro o que realmente aconteceu e nem penso em questioná-lo...porque sempre existe um mistério que deixo enterrado com a faca.

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Uma pequena homenagem à minha primeira professora que ensinou-me a escrever:

Dª Florinda,de semblante firme e muito simpática.

Lecionava numa única sala de mais ou menos 25 alunos,classe mista...faixa etária entre 6 e 7 anos.Todos os alunos de origem simples e um pouco retraídos...aqueles que ficavam ruborizados quando se dirigia a palavra.

A singeleza das crianças ávidas pelo aprendizado,compunha um ambiente siencioso e compenetrado quando a professora ensinava.Muitas vezes recebíamos a visita do amável diretor Sr. Ciro com seu porte magro e alto num terno sóbrio,feições sérias e determinadas.

Nesse dia o silêncio era total,sómente o divagar do diretor com sua voz forte e amistosa ecoando na sala,contando estórias do nosso folclóre brasileiro, numa tentativa de instruir-nos sobre o que eram contadas pelos mais velhos, sem contradizê-los na sua versão.

Os alunos participavam da conversa perguntando sobre os mesmos!

Tínhamos maior admiração pelos dois integrantes do ensino primário,ainda mais pela educação que transmitia-nos com eus exemplos.A lição de vida,o desempenho do mestre aos seus discípulos,tudo foi armazenado e repercutido nos anos vindouros.

A primeira professora nós nunca esquecemos;principalmente eu que aprendi a amar os livros e gostar de escrever.

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*Quando menos espero vem o meu primeiro beijo.

Brincávamos e ríamos em uma calçada calma.Então paramos e nos entreolhamos e a curiosidade fez com que o coração batesse depressa;as mãos ficavam com mais sintonia.

Sentia o seu ar quente em minhas narinas e isto me fazia desejar mais.Não víamos ninguém a nossa volta;e aconteceu o beijo.

Tentei imitar os beijos de novela,porém este só durou seis segundos.Foi o suficiente;não consegui esquecer-me daquela cidadela ,que até hoje perfura meu peito.E nem daquela garota que me beijou rapidamente por seis segundos !

Procuro encontrá-la ,mas tenho que deixar o meu presente.E isto complica a minha vida.

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São João...São João...acende a fogueira no meu coração...

Como todos os meninos...gostava de olhar o céu estrelado na noite de São João e percorrer cada pontinho que parecesse uma tocha de balão aceso.

Por vezes,tinha a impressão que as estrelas piscavam para mim..ou passavam em uma velocidade que mal se distinguia na escuridão.

Procurava sinais de balões no alto e quase tropeçava porque nem olhava onde pisava.

Meu pai sempre fazia fogueira no quintal do sítio na época das festas juninas.

Com pequenos pedaços de madeiras cortadas com o machado...naquela época era fogão de lenha que usávamos na cozinha.Tudo muito rústico...mas aconchegante.

Uma parte da infância simples e feliz.Enquanto meus pais e meus irmãos ficavam assando batata-doce e milho verde na fogueira, conversando animadamente, eu só espreitava o céu...quando ví um balão caindo em cima do nosso paiol feito de páu-a-pique.

Meu pai foi ligeiro...conseguindo pegar o balão com a tocha ainda acesa.Seria uma catástrofe se pegasse fogo no paiol.

Desde esse dia fico apreensivo quando vejo balões no céu...penso nos incendios que podem provocar, e também nas queimaduras das brincadeiras da fogueira.


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obs) As postagens com (* asterisco) não são da minha autoria.




Olga Pequena Mensageira

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